Aplicação de revestimento
impermeabilizante à base de poliureia

Material desenvolvido na década de 1980, a poliureia ingressou no mercado da construção civil entre o fim dos anos 90 e início dos anos 2000. Aplicada na forma de membrana moldada in loco. Suas características físico-químicas e forma de aplicação permitem seu uso em uma extensa gama de aplicações. Dentre essas características, que variam em função de sua formulação, destacam-se:
-Cura ao toque em poucos segundos e cura total em algumas horas, permitindo o uso da área quase que instantaneamente;
-Possibilidade de aplicação por spray em qualquer espessura e em apenas uma demão;
-Alta elasticidade, usualmente de até 500%, com alta resistência à tração e ao rasgo;
-Alta resistência às intempéries e aos raios ultravioleta (UV);
-Alta resistência química;
Alta estabilidade em ampla faixa de temperatura, usualmente entre -40ºC e +110ºC. As características acima listadas permitem a adoção deste material tanto como impermeabilizante, quanto como revestimento de proteção de superfícies em inúmeras situações encontradas em ambientes industriais, comerciais e na construção civil. Seu desempenho mecânico e sua resistência química permitem dispensar camadas de proteção, necessárias em alguns sistemas tradicionais de impermeabilização (figura 1). Dessa maneira, sua especificação pode implicar, ao mesmo tempo, economia de materiais e redução do peso da estrutura. Em se tratando de lajes

pré-moldadas, por exemplo, pode-se executar a solidarização já com acabamento e caimentos necessários, e sobre ela aplicar o revestimento impermeabilizante de poliureia. Entre proteção mecânica, regularização para caimentos e pavimento transitável de concreto armado, pode-se chegar a elevada espessura de concreto ou argamassa que não será necessária. Como o peso específico do concreto é de 2.500 kg/m3, obtém-se considerável alívio de carga. Por fim, em intervenções de manutenção durante a fase de operação do edifício, eliminaram-se as etapas de remoção e posterior reexecução da proteção mecânica da impermeabilização. A poliureia é um material isento de solventes e inerte a intempéries e micro-organismos. Mesmo anos após sua aplicação, permanece com suas características de elasticidade e impermeabilidade praticamente inalteradas, garantindo a

Figura 1 - Com grande elasticidade e resistência mecânica, revestimento de poliureia pode ser aplicado
em pavimentos de alto tráfego.
Fotos: Divulgação/Duroshield

estanqueidade da área tratada (figura 2). Estima-se que a vida útil do material chegue a mais de 30 anos. Sua aplicação é realizada com spray de forma contínua e permite a adequação do revestimento a geometrias mais complexas - como juntas, encontros e quinas -, tanto em superfícies horizontais como verticais. O material adere totalmente ao substrato, impedindo a percolação da água entre camada de impermeabilização e a laje. Quando aplicado em grandes áreas, em que geralmente ocorre a interrupção da aplicação de um dia para outro, forma posteriormente uma membrana contínua sem emendas ou juntas, visto que as camadas se fundem totalmente. Sua cura ao toque acontece em poucos segundos, de modo que não ocorre perda de material mesmo com incidência de chuvas na área revestida minutos após a aplicação. É importante lembrar que o material é extremamente técnico,

   

Figura 2 - Resistente a raios UV, poliureia pode ser aplicada sobre lajes expostas sem proteção meânica

demandando cuidados especiais e respeito aos procedimentos de aplicação do material à sua aplicação efetiva, assegurando-se a completa preservação das características especificadas para a solução.

Especificação
Como já mencionado, as características da poliureia se modificam conforme a formulação utilizada, ou seja, podem ter mais ou menos elasticidade, resistência à tração, dureza, etc., o que é escolhido de acordo com a necessidade especifica e a situação a que ficará submetido o material. No caso específico de lajes e pavimentos transitáveis, especificam-se formulações que tenham como características principais:
-Elasticidade > 150% (ASTM D 412);
-Resistência à tração > 1.700 psi (ASTM D 412);
-Dureza Shore > 40D (ASTM D 2240);
-Aderência ao substrato > 350 psi (ASTM D 4541);
-Resistência à abrasão < 10 mg de perda (ASTM D 4060 CS-17);
-Resistência ao intemperismo acelerado > 1.000 horas sem alteração de cor (ASTM D 4329);
Isso significa que o material irá aderir à superfície com maior tensão do que a própria força coesiva do concreto, e também que sua resistência à tração, resultante do tráfego, será compatível com esse tipo de pavimento, Além disso, sua resistência às intempéries também garantirá alta durabilidade.

Outra importante definição nessa etapa da especificação é a espessura de aplicação do revestimento. Espessuras muito baixas não garantem o desempenho do material, enquanto muito altas significam gastos desnecessários. Sugere-se, para esse tipo de área, a adoção de espessuras entre 1,5 mm e 2,5 mm, dependendo da definição do fornecedor.

Execução
Após a etapa de especificação, dá-se prosseguimento à fase de execução do revestimento - a mais importante do processo, que garante o desempenho e as características projetadas. A poliureia é um material muito técnico, o que significa que deve ser aplicado somente por empresas e profissionais experientes, habilitados e equipados (figura 3).

Preparação da superfície
Uma correta aplicação se inicia com a correta preparação do substrato no qual será aplicado o revestimento. Lajes e pavimentos transitáveis de concreto exigem procedimentos e cuidados específicos. A primeira preocupação deve ser com a limpeza e remoção de detritos, natas superficiais e qualquer material desagregado na superfície. Esse tipo de trabalho é normalmente realizado por lixamento, jateamento ou hidrolavagem da superfície, dependendo de sua idade, estado, rugosidade e porosidade. Objetiva-se, em última análise, a obtenção de uma superfície íntegra, coesiva e com rugosidade compatível com a aderência necessária ao revestimento.

Figura 3 - Aplicação do produto deve ser
feita por equipe especializada para garantir
desempenho previsto na especificação

Como parâmetro de rugosidade do concreto, é muito utilizado internacionalmente o padrão emitido pelo SSPC (The Society for Protective Coatings). Dentro desse padrão, apresentado na figura 4, procura-se, nas aplicações de poliureia para pavimentos, obter uma rugosidade superficial entre CSP-3 e CSP-6.

Figura 4 - Aparência dos padrões de
rugosidade de superfícies de concreto. A foto
é meramente ilustrativa, já que a SSPC
fornece amostras físicas desses padrões
para utilização comparativa nas aplicações.

Figura 5 - Unidade dosadora airless tipo
hot spray e pistola de aplicação

Juntas
O pavimento ou laje de concreto apresenta diversas juntas construtivas - de encontro com alvenarias, de dilatação, de concretagem, etc. Todas essas juntas necessitam ser tratadas, pois além de representarem uma descontinuidade do pano de concreto, normalmente apresentam algum tipo de movimentação. O tratamento de qualquer junta envolve sua limpeza e seu preenchimento com um material elastomérico, sobre o qual será aplicada a membrana de poliureia, garantindo a continuidade sem emendas.

Primer
Sendo a poliureia um material de cura extremamente rápida, da ordem de segundos, a utilização de um primer como ponte de aderência é de fundamental importância. Sua função é penetrar na superfície do concreto de forma a ancorar-se física e quimicamente nesta, e ter a necessária afinidade química com a poliureia que será aplicada para proporcionar a fusão entre o concreto, o primer e a poliureia que será aplicada para proporcionar a fusão entre o concreto, o primer e a poliureia, com resistência ao arranchamento maior que a própria força coesiva do concreto. Para garantir essa perfeita afinidade entre materiais, o primer deve ser sempre fornecido pelo fabricante da poliureia que será aplicada, e sua aplicação deverá seguir o procedimento e os tempos determinados por ele. Esta etapa da aplicação pode ser considerada crítica e deve ser acompanhada tecnicamente em relação aos parâmetros que afetam sua

Figura 6 - Holiday Detector

qualidade, como exposto mais adiante.

Aplicação da poliureia
Uma vez aplicado o primer, inicia-se, dentro da janela de recobrimento, a aplicação da poliureia. Devido à sua velocidade de cura, a única forma de aplicação do produto é com um equipamento específico chamado unidade dosadora airless tipo hot spray, que comprime e aquece o material, e mistura os dois componentes da poliureia no bico da pistola de aplicação (figura 5). A aplicação em si funciona como uma pintura com pistola. As superfícies são recobertas pelo material e, quanto mais se aplica em uma determinada área, maior é sua espessura. A obtenção de uma espessura uniforme, dentro dos parâmetros especificados, é função da experiência do aplicador e da correta definição do equipamento e do bico da pistola que está sendo utilizada. Durante a aplicação, tanto da poliureia quanto do primer, é necessário o estrito controle de alguns parâmetros, os quais respondem intimamente pela qualidade e aderência do revestimento:
-Umidade relativa do ar;
-Umidade da superfície;
-Temperatura ambiente;
-Temperatura da superfície;
-Ponto de orvalho;
-Tempo máximo de recobrimento do primer.

Controle da qualidade
Uma vez finalizada a aplicação em uma determinada área, procede-

Figura 7 - Equipamento para teste de Pull-off

se à verificação da estanqueidade da impermeabilização, o que pode ser feito pelo método tradicional de manutenção de uma lâmina de água por 72 horas ou, alternativamente, através da utilização de um medidor de descontinuidade do tipo Holiday Detector (figura 6).
Verificada a estanqueidade e finalizada a aplicação, é usual a liberação da área para tráfego normal em 12 horas a 24 horas. Além da estanqueidade, pode-se medir alguns parâmetros relacionados à qualidade do material e do serviço executado:
Aderência: teste de arrancamento (Pull-off), com equipamento apresentado na figura 7;
Espessura: método destrutivo por amostragem;
Dureza: medição com durômetro Shore D.